Tuesday 5 October 2010

 Life A User's Manual - Capítulo II

– Le Poisson Rouge, da série Para Fora de Pé
07.10.2010 - 11.10.2010 - Ruben Rodrigues

Ruben Rodrigues (n. 1979, Lisboa) fotografa como um contador de histórias: por metáforas. Metáfora e narrativa, legendas subtis que variam consideravelmente ao longo da série “Para Fora de Pé”, afirmam a natureza idiossincrática do trabalho à medida que sugerem um conceito universal.
Nas fotografias “Le Poisson Rouge” (da série “Para Fora de Pé”) de formato generoso (400 x 500mm) há um forte tom de confissão autobiográfica neste peixe vermelho (vermelho na legenda, laranja na imagem) retratado na sua vulnerabilidade e resistência.
Rodrigues não é indiferente ao poder da metáfora enquanto instrumento para falar de si
mesmo. O olhar para o “Eu” implica um reconhecimento do “Outro” e Ruben Rodrigues entende esta dificuldade e olha com humor para si mesmo, recorrendo a uma metáfora do peixe preso com a visão que lhe é permitida do que existe fora do seu espaço possível. E da impossibilidade de participação e modificação de quaisquer dos espaços. Resta-lhe observar o que lhe é permitido.
Escritores usam metáforas tão visuais quanto artistas plásticos para contar histórias ou
reflectirem sobre a sua condição. Em “Os passos em volta”, Herberto Hélder também recorre ao peixe enquanto metáfora: “Era uma vez um pintor que tinha um aquário com um peixe vermelho. Vivia o peixe tranquilamente acompanhado pela sua cor vermelha até que principiou a tornar-se negro a partir de dentro, um nó preto atrás da cor encarnada. (...) Ao meditar sobre as razões da mudança exactamente quando assentava na sua fidelidade, o pintor supôs que o peixe, efectuando um número de mágica, mostrava que existia apenas uma lei abrangendo tanto o mundo das coisas como o da imaginação. Era a lei da metamorfose. Compreendida esta espécie de fidelidade, o artista pintou um peixe amarelo.”
“Le Poisson Rouge” de Ruben Rodrigues também vive no dilema da cor, não lhe bastasse o dilema de só ver aquilo que o “Outro” o deixa ver e viver. Na legenda, é vermelho. Na fotografia, é laranja. Vive no limbo do que é designado e de como é visto. Sempre pelo “Outro”.

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